O critério escolhido por Passos Coelho para a votação na especialidade do Orçamento obrigou o PSD a fazer uma figura ridícula. E, nestas coisas, o ridículo mata.

É preciso dizer que o PSD já estava mal na fotografia do debate orçamental com a sua obstinada recusa de apresentar quaisquer propostas de alteração para melhorar o Orçamento ou, pelo menos, para enunciar a sua alternativa política. Ao fazê-lo, embaraçado com a impopular alternativa austeritária que teria de propor e sempre sem conseguir esconder um certo tom de birra, Passos definiu a orientação da oposição que pretende liderar. E fez a sua escolha: renunciou a fazer uma oposição construtiva. 

Na votação na especialidade, as coisas pioraram. Passos, por incrível que pareça, conseguiu convencer o seu partido a seguir um critério cego: votar contra todas as propostas originais do Governo, mesmo estando de acordo; e abster-se em todas as propostas de alteração dos partidos, mesmo estando contra ou a favor delas. O bonito resultado deste elevado e requintado critério político, a que Passos chamou de “coerente”, foi o de obrigar o PSD a votar contra preceitos idênticos a outros que já tinha votado favoravelmente no passado ou que correspondiam a compromissos do seu próprio Governo (como no caso do apoio aos refugiados na Grécia e na Turquia), e a abster-se em propostas de alteração objectivamente favoráveis às famílias mais carenciadas. Sempre em nome da peculiar “coerência” de Passos, o PSD passou até pela situação caricata de votar contra propostas do Governo por serem alegadamente “despesistas” e abster-se nas correspondentes propostas de alteração que aumentavam ainda mais a despesa... É obra!

Como é evidente, o critério cego de Passos na votação da especialidade não teve nada a ver com “coerência”. Pelo contrário, precisamente por ser cego, esse critério impediu o PSD de votar de forma coerente com o seu passado e, sobretudo, de forma coerente com as suas convicções, se é que ainda tem algumas.

Manifestamente, esta atitude vai bem com o estado de espírito de Passos Coelho e condiz com o seu ar amuado por ter perdido o poder. O que não se vê é em que é que este estilo rezingão pode ajudar o PSD a cumprir aquela que é a sua tarefa essencial: recuperar a simpatia da maioria dos eleitores. É claro, pode ser que Passos ainda se dê conta a tempo do erro fatal que está a cometer. Mas também pode acontecer outra coisa: que o PSD perceba isso antes dele.

Artigo de opinião publicado no Diário Económico de 18 de março e na sua edição online.