Com um notável desprezo pelo interesse nacional, o PSD tem em curso uma intensa campanha para tentar empurrar Portugal para um novo resgate. Desde o dia em que o Governo mudou, Passos Coelho e os mais variados dirigentes do maior partido da Oposição não se cansam de acenar com a perspetiva de um novo pedido de ajuda externa. Descrevendo repetidamente, para consumo interno e externo, um cenário de crise e catástrofe na economia portuguesa, que a realidade não confirma, aí os temos a especular todos os dias, a propósito de tudo e de nada, sobre a inevitabilidade de um segundo resgate como se estivesse já ali ao virar da esquina e só faltasse acertar os detalhes.

Esta semana, por exemplo, Maria Luís Albuquerque entreteve-se a discutir em que medida os nossos parceiros europeus estariam disponíveis para participar nessa nova ajuda financeira. Antes, já o próprio Passos Coelho tinha garantido que, se não fosse o BCE, o Governo já não conseguiria obter financiamento externo (como se o efeito da intervenção do BCE na estabilização dos mercados europeus de dívida soberana fosse coisa de agora...) e raro é o dia em que uma figura da área do PSD não aparece a pré-anunciar a tragédia seguinte com uma imaginação que impressiona: planos B, medidas adicionais, orçamentos retificativos, desentendimentos à Esquerda, chumbo do orçamento, sanções de Bruxelas, descida dos "ratings" - tudo o que vem à rede é peixe. Chegou-se até à situação caricata de terem de ser as agências de "rating" a esclarecer que não tencionam baixar a notação de Portugal, nem acreditam nessa conversa do segundo resgate!

É claro que o que se espera de um partido da Oposição é que se oponha ao Governo e é muito natural que a política económica esteja no centro do debate democrático, mas isso não tem que se traduzir numa política destrutiva de "terra queimada" disposta a sacrificar a imagem do país independentemente das consequências. Vai nisto, portanto, uma escolha política lamentável: a oposição ao Governo só toma a forma de constantes especulações sobre um imaginário segundo resgate porque os dirigentes do PSD resolveram trabalhar ativamente para que ele aconteça. E por uma única razão: estão convencidos de que esse é o caminho mais curto para regressarem ao poder. Infelizmente, nada de novo, já vimos este filme. E deixou sequelas.

 

Artigo publicado no Jornal de Notícias