A direita e os seus activistas de serviço na comunicação social bem se esforçam por precipitar o país numa nova crise financeira, mas a agência de ‘rating’ canadiana DBRS parece disposta a resistir às pressões políticas.

Questionada intensamente nos últimos dias, a DBRS multiplicou-se em comunicações e emitiu uma mensagem absolutamente clara: está “confortável” com a notação de investimento atribuída à dívida pública portuguesa.
A notação positiva da DBRS para o investimento em dívida pública portuguesa não é, de todo, uma questão menor. 

Tendo o governo de Passos Coelho, apesar da tão propalada “recuperação da confiança”, falhado clamorosamente a melhoria dos ‘ratings’ por parte das três maiores agências (que insistem, todas elas, desde o chumbo do PEC IV, na notação de “lixo” para a nossa dívida pública), a classificação atribuída pela canadiana DBRS adquiriu uma importância decisiva, visto que dela depende a manutenção da garantia de acesso ao financiamento por parte do Banco Central Europeu. Daí que a direita, cumprindo uma deplorável política de terra queimada semelhante à que empurrou Portugal para a ajuda externa em 2011, tenha decidido concentrar baterias na DBRS. A ideia é óbvia: “Sensibilizá-la”, à força de perguntas e argumentos, contra a herética mudança de política ocorrida em Portugal.

A coisa chegou a tal ponto que esta semana, Fergus McCormick, chefe de ‘Ratings’ Soberanos da DBRS, teve de vir responder à vozearia numa teleconferência de imprensa em que, sem deixar de assinalar riscos e reparos, declarou, preto no branco, que o ‘rating’ de Portugal é “apropriado” e está até “muito estável”. E explicou: “Desde que o Governo não se desvie do caminho traçado em termos orçamentais e que o crescimento continue a corresponder, Portugal parece estar muito estável”. Houve quem não conseguisse esconder a desilusão.

Em claro contraciclo com a campanha catastrofista da direita, o responsável pelos ‘ratings’ da DBRS sublinhou, para quem o quis ouvir, que “o défice português é relativamente baixo” e reconheceu que as metas orçamentais apresentadas pelo Governo socialista até são “ambiciosas”, mostrando-se agradado com a disponibilidade manifestada pelo Governo para adoptar as medidas adicionais que vierem a ser necessárias. E não se ficou por aqui. Consultado o Orçamento, classificou como “robustas” as perspectivas de crescimento económico e considerou “plausível” uma estabilização do rácio da dívida face ao PIB ou até mesmo um “ligeiro declínio”.

Aliás, já uns dias antes, logo que foi conhecida a versão final do Orçamento negociado com a Comissão Europeia - com as suas medidas adicionais e a nova meta de 2,2% para o défice -, a DBRS tinha divulgado uma nota oficial em que registou uma conclusão igualmente inequívoca: “Portugal apresentou um Orçamento para 2016 que indica um compromisso político com uma mais profunda consolidação orçamental”.

A verdade é que a preocupação maior confessada pela DBRS não se refere nem aos riscos que pairam sobre a economia, nem às dificuldades da execução orçamental, nem sequer às dúvidas sobre a consistência da maioria de esquerda que apoia o Governo. A preocupação maior, como explicou Fergus McCormick, é a possibilidade de um “confronto aberto” com a Comissão Europeia. É certo, o sucesso alcançado por António Costa na negociação do Orçamento afastou, para já, esse cenário e permitiu à DBRS declarar-se “confortável”. Mas é em Bruxelas que a direita espera travar a batalha decisiva. É lá que concentra forças e abre trincheiras. E é lá que ainda conta provocar o tal “confronto aberto”. A luta continua. 

 

Artigo de opinião publicado no Diário Económico de 19 de fevereiro e na sua edição online.