Para a direita, a começar pelo CDS, este é o tempo das escolhas.

Afastada do poder por resultados eleitorais insuficientes e surpreendida pelo acordo à esquerda, a direita deu-se conta, finalmente, da consequência política do seu radicalismo: só regressará ao poder quando for capaz de reconquistar a maioria absoluta. Isto, que Paulo Portas compreendeu muito bem, creio ter sido eu o primeiro a assinalá-lo (TVI, Prova dos 9, 3-12-15). Resta saber que caminho deve seguir a direita para lá chegar.

Posto assim o problema, a questão transcende em muito a sucessão de Portas, matéria da exclusiva competência dos militantes do CDS. Como tem sido observado, se prevalecer uma lógica interna de aparelho, a opção de liderança será uma; se prevalecer a atenção à preferência dos eleitores, a opção será outra. Porém, mais importante do que os nomes é a equação estratégica. E é essa que merece aqui um exercício analítico.

A primeira escolha que o CDS tem para fazer é esta: contribuir para uma recomposição total da direita, numa fusão definitiva com o PSD (à francesa) ou, pelo contrário, afirmar a sua identidade própria e a sua autonomia estratégica. A primeira alternativa, embora com o risco inerente a todas as inovações, não deve ser liminarmente rejeitada. Afinal, o que é hoje o CDS e para que serve? O CDS descaracterizou-se profundamente nos últimos quatro anos, depois de ter traído no Governo todas as suas bandeiras. A tal ponto que é hoje muito incerta a viabilidade de um regresso credível ao passado, seja ele o longínquo passado democrata-cristão de Freitas do Amaral, seja ele o passado mais recente do populismo de Portas. Por outro lado, na falta de uma grande figura mobilizadora na direita portuguesa, uma refundação do centro-direita, com uma nova “imagem de marca”, poderia ser um contributo interessante para o desafio de recuperar o centro. Naturalmente, um tal movimento não depende apenas do CDS, depende também do PSD. E exigiria uma negociação que assegurasse uma “transição tranquila” aos actuais quadros do CDS e uma fórmula política aceitável, embora respeitadora do partido maior (porventura, perfilhando a designação PPD e aproveitando a ocasião para eliminar a sigla PSD, de modo a acabar de vez com o insanável equívoco de uma pretensa social-democracia de centro-direita). 

Terá o próximo líder do CDS a lucidez e a coragem para liderar uma comissão liquidatária? É tudo menos certo. Mas nem por isso a tarefa de reconstruir a identidade e autonomia do CDS se afigura menos complicada. Para tanto, o CDS teria de escolher entre três alternativas possíveis: i) Regresso à democracia-cristã, recuperando o centrismo original e a equidistância política face ao PSD e ao PS (sem a qual não haverá autonomia estratégica); ii) Regresso ao populismo moderado (uma espécie de “portismo” sem Portas), tentando reconstruir a credibilidade perdida junto dos alvos tradicionais do CDS (contribuintes, pensionistas, ex-combatentes....); iii) Adopção de um novo populismo radical, de tipo eurocéptico, porventura xenófobo e com pretensões regeneradoras. Como se vê, embora as vias pareçam muitas, o caminho é estreito. As duas primeiras opções não passam de variantes de “regresso ao passado” de sucesso duvidoso; a terceira, além de contrária à cultura do partido, condenaria o CDS ao isolamento político e, portanto, ao fracasso.

É claro, o CDS pode sempre “jogar na tripla” e querer ser tudo ao mesmo tempo: democrata-cristão, populista moderado e, quando der jeito, populista radical. E depois ficar “à chamada”, disponível para servir de bengala quando o PSD precisar. Mas até isso, além de não ser um desígnio dignificante, é perigoso: querer ser tudo ao mesmo tempo é o caminho mais curto para não ser coisa nenhuma.

 

Artigo publicado no Diário Económico