Os resultados das eleições holandesas desta semana constituíram uma importante derrota para a extrema-direita populista e um significativo sinal de esperança para o futuro do projeto europeu - além de dirigirem um sério aviso para os partidos socialistas menos fiéis ao ideário social-democrata.

Certo é que, ao contrário da expectativa alimentada por uma Comunicação Social sempre dada ao encantamento com o discurso contundente dos excêntricos protagonistas do populismo, o Partido da Liberdade, de Geert Wilders - que às vezes parecia o único concorrente às eleições... - não foi além dos 13%, apesar de alcançar o segundo lugar e conseguir um ligeiro aumento do seu número de deputados (abaixo, porém, do que obteve em 2010). Contas feitas, e ouvido o povo, a onda populista que ameaçava inundar a Europa sofreu na Holanda uma segunda desilusão, depois da derrota averbada também nas presidenciais austríacas.

Que não haja, porém, ilusões: a luta contra o populismo continua. Não apenas porque o teste decisivo se vai jogar, evidentemente, nas eleições francesas (já que na Alemanha a extrema-direita, embora ruidosa, parece afastada da luta pelo poder, à medida que se consolida a dinâmica de vitória do SPD, sob a liderança de Martin Schultz) mas, sobretudo, porque derrotar o populismo é muito mais do que derrotar os populistas. Mais do que obter vitórias eleitorais, derrotar o populismo é ganhar o combate pelos valores e pelas ideias políticas, não permitindo que a semente da intolerância, do nacionalismo e da xenofobia faça o seu caminho nas sociedades europeias, seja por via dos mecanismos mediáticos e das redes sociais, seja por via da própria contaminação ideológica dos partidos centrais do sistema político. Como se viu na Holanda, há uma certa tentação de opor ao populismo extremista uma espécie de populismo "civilizado", mas não menos protecionista, nem menos xenófobo ou securitário - e, por isso, não menos adversário dos valores que inspiram a integração europeia. É também aí, portanto, que a luta se trava. Contra o populismo e pelo futuro do projeto europeu.

 

Artigo publicado no Jornal de Notícias