Depois de por duas vezes os portugueses terem ditado, com o seu voto, o destino de Passos Coelho - primeiro tirando-lhe o poder no paí­s, depois tirando-lhe a liderança no partido - cabe, naturalmente, aos militantes do PSD tomar decisões sobre o seu futuro. Visto de fora, todavia, parece que o PSD está confrontado, antes de mais nada, com o dilema clá¡ssico entre continuidade ou renovação.

Para quem deseja tentar o caminho da renovação, como o PSD tantas vezes fez na sua história por ocasião de mudança de lí­deres, a escolha óbvia será, certamente, Rui Rio, que apresenta a seu favor as credenciais de uma forte personalidade própria e de um notório distanciamento face ao consulado de Passos Coelho.

Para quem, ao invés, deseje continuidade - como será o caso do aparelho "passista" - as coisas, que já não estavam fáceis, ficaram bastante mais complicadas depois das inesperadas desistências de Luí­s Montenegro e Paulo Rangel. Apesar do nome de Maria Luí­s Albuquerque já ter sido falado, não é nada evidente que os herdeiros do "passismo" disponham de uma terceira opção suficientemente mobilizadora e capaz de ombrear com o protagonismo de Rui Rio.

Nestas condições, aquilo que parecia impensável, uma candidatura de Santana Lopes, pode acabar por ter nesta confusão uma surpreendente janela de oportunidade. Teríamos, assim, não propriamente um dilema - entre continuidade e renovação - mas um trilema, que incluiria a possibilidade de uma terceira via de regresso a um certo passado.

Sucede que além deste dilema, ou trilema, o PSD tem pela frente, também, um problema - e que não é pequeno. E esse problema pode ser enunciado assim: manter a liderança da Oposição parlamentar ao Governo ou correr o risco de a entregar, de mão beijada, a Assunção Cristas. Naturalmente, faz toda a diferença que o líder do PSD esteja no Parlamento para confrontar o primeiro-ministro nos debates quinzenais ou que lá não esteja, deixando que a líder do CDS ganhe ainda mais protagonismo polí­tico por via desse confronto. É certo, já houve casos em que a liderança da Oposição se fez a partir de fora do Parlamento, mas é mais do que duvidoso que, neste momento histórico, o PSD se possa dar a esse luxo. Na verdade, depois de Cristas ter levado o CDS à condição de segunda força política em Lisboa, pode ser demasiado arriscado para o PSD entreter-se com dilemas e trilemas, em vez de enfrentar aquele que se pode tornar no seu mais sério problema.

 

Artigo publicado no Jornal de Notícias

PSD