Causou algum alarido a ideia avançada esta semana por António Costa de que faz sentido prolongar o entendimento à Esquerda na próxima legislatura mesmo que o PS venha a obter uma maioria absoluta. Mas o argumento, temos de concordar, é poderoso: afinal, em equipa que ganha não se mexe.

Não há dúvida de que, apesar de todas as divergências, desde sempre assumidas, esta solução política tem-se revelado ganhadora. Ao contrário dos maus presságios iniciais da Direita, esta solução deu ao país estabilidade e governabilidade, contribuindo para um ambiente geral de descrispação social e de recuperação da confiança. Mais importante: o Governo e a maioria parlamentar têm resultados francamente positivos para apresentar.

Cumprido um amplo programa de recuperação do rendimento das famílias, com aumento dos salários, das pensões e das prestações sociais, temos agora a economia a crescer acima da média da Zona Euro, o investimento público e privado a aumentar, as exportações a subir e o desemprego a baixar - convenhamos, não é coisa pouca. Na frente orçamental, de novo desmentindo todas as previsões catastrofistas, cumpriram-se as metas do défice com valores nunca vistos; a dívida pública líquida começou a diminuir e Portugal conseguiu em Bruxelas não só livrar-se das sanções pelos incumprimentos do Governo de Passos Coelho como, tudo o indica, deverá livrar-se também do muito penalizador procedimento por défice excessivo. Como se não bastasse, o Governo tem sido também capaz de enfrentar e superar, um a um, os inúmeros e gravíssimos problemas deixados pela Direita no sistema financeiro: resolveu, em situação limite, o problema do Banif; contribuiu para a estabilidade acionista no BPI e no BCP; recapitalizou a Caixa Geral de Depósitos; promoveu um acordo com os lesados do BES e, agora, no quadro apertado da resolução decidida em 2014, encontrou, com engenho e arte, a melhor solução possível para o Novo Banco. Não admira que António Costa apresente a solução política em que assenta o seu Governo como uma solução ganhadora.

Todavia, a mensagem de António Costa, sendo acima de tudo um sinal de reconhecimento dos méritos e dos resultados da solução governativa, é também um importante contributo para o reforço da coesão da maioria parlamentar. Na verdade, o que esta mensagem significa é uma clara desautorização das fantasiosas teorias da conspiração que, com evidentes intuitos intriguistas, pretendiam semear a ideia de que o PS teria a intenção de provocar eleições antecipadas e, por essa ou qualquer outra forma, ver-se livre de um, dos dois e se possível dos seus três parceiros parlamentares. Como agora se vê pelas declarações de António Costa, nada mais errado. Decididamente, as coisas não estão a correr bem para as previsões da Direita.