Este domingo arranca, em Vila Real, a iniciativa “Parlamento Europeu à sua porta”, um projecto-piloto do Parlamento Europeu (PE) que pretende dar a conhecer o funcionamento da democracia europeia e as iniciativas dos eurodeputados aos cidadãos portugueses através de um stand móvel de realidade virtual. No âmbito do lançamento do projecto, que vai passar também por Viseu, Coimbra, Évora, Braga, Porto e Portimão até 19 de Junho, o PÚBLICO entrevistou Pedro Silva Pereira, vice-presidente do Parlamento Europeu e eurodeputado pelo Partido Socialista (PS), acerca da relação dos portugueses com a União Europeia (UE), do futuro da Europa e dos desafios da delegação socialista do PE.

Porque é que o Parlamento Europeu escolheu Portugal para esta iniciativa? Teve a ver com o facto de os portugueses estarem pouco conscientes da influência da UE nas suas vidas?

Temos consciência de que esse é um problema em Portugal, mas é também um problema noutros países europeus e, por isso, é preciso que as pessoas conheçam melhor o funcionamento da democracia europeia e o papel decisivo do PE no sistema político. É preciso que as pessoas saibam o que faz o PE para perceberem que o seu voto tem sentido e é útil.

Temos uma taxa de abstenção nas eleições europeias que se tem mantido estável - em 2019 até baixou em 36 mil [votos] -, mas, apesar disso, a participação eleitoral nas eleições europeias é inferior às outras eleições. Isso acontece porque as pessoas acham que as eleições europeias são menos importantes e só podem achar isso porque não sabem a importância do Parlamento Europeu no funcionamento da democracia.

Um dos grandes objectivos desta iniciativa é reflectir sobre o futuro da Europa. Que desafios enfrenta o PE neste momento?

Nós estamos em guerra. O desafio mais óbvio é as consequências da guerra em resultado da invasão brutal da Ucrânia por parte da Rússia e isso altera muita coisa no plano europeu. Desde logo, obriga a UE a dar uma prioridade acrescida aos temas da defesa e da segurança. Isso reafirma a importância do nosso compromisso com a NATO, mas obriga a UE também a valorizar mais a coordenação das políticas de defesa nacionais.

Depois, isto terá evidentes consequências no plano económico porque esta situação está a provocar inflação, em particular nos preços da energia, mas também nas cadeias de abastecimento, sobretudo nos bens alimentares, o que obriga a UE a acelerar a sua transição energética, a reduzir a sua dependência energética e a assegurar autonomia estratégica em sectores críticos. E isso é um impulso a mudanças de política.

Felizmente, acho que se pode dizer que a UE tem respondido de forma unida e firme a um desafio muito importante, mantendo sempre a solidariedade com a Ucrânia. Aliás, com medidas sem precedentes de sanções contra a Rússia e de apoio a um país em guerra e aos refugiados, que estão hoje numa situação dramática a que temos de responder da única forma possível: com solidariedade.

E o PS, agora que Manuel Pizarro foi eleito como presidente da delegação do partido no PE?

A delegação do PS é uma delegação particularmente forte e influente que tem conseguido travar o seu combate pela agenda progressista que defendemos para a Europa. Há dois aspectos em que isso é muito visível. Em primeiro lugar, com a agenda económica de resposta à crise da pandemia que levou a medidas inéditas de mutualização de dívida para um pacto financeiro muito poderoso de resposta à crise. O segundo aspecto é o pilar europeu dos direitos sociais, que foi marcante na presidência portuguesa, e que pertencerá às prioridades da Europa a serem afirmadas na Conferência sobre o Futuro da Europa.

A mudança da liderança é uma mudança na continuidade. Acontece para dar um novo impulso à delegação, com um rosto novo na chefia da delegação, mas com uma aposta na continuidade porque a delegação cumpriu os seus objectivos de forma exemplar. É hoje conhecida como a delegação mais influente dentro da família socialista e no PE.

 

Entrevista publicada no jornal "Público " 23/04/2022.