Ao vencer ontem a terceira votação no Conselho de Segurança, António Guterres deu mais um passo, e um passo muito importante, na sua candidatura a Secretário-Geral das Nações Unidas. Contas feitas, em três votações secretas Guterres obteve três vitórias claras, o que o posiciona, sem dúvida, como o candidato mais forte ao lugar.

O resultado obtido até aqui pelo ex-Primeiro-Ministro português e ex-Secretário-Geral do PS impressiona ainda mais se atentarmos nos números de cada um dos escrutínios. De facto, Guterres não apenas venceu todas as votações como fê-lo sempre com votações favoráveis muito elevadas (sempre 11 votos ou mais em 15 possíveis) e com bastante menos votos desfavoráveis do que qualquer dos seus concorrentes (todos os outros têm pelo menos 5 votos desfavoráveis, enquanto Guterres soma apenas 3). E enquanto Guterres se aproxima em todas as votações do pleno no Conselho de Segurança, com 11 ou mais votos a favor, todos os seus adversários se ficaram na votação mais recente por menos de metade dos votos possíveis (7, na melhor das hipóteses), com a única exceção do candidato esloveno Miroslav Lajčák, que na última votação chegou aos 9 votos favoráveis, embora averbando um nível de rejeição superior (com 5 votos contrários).

Aqui chegados, as coisas começam a ficar mais claras. Considerando virtualmente “fora de combate” os candidatos que ao fim da terceira votação mantém um nível de rejeição muito elevado (6 votos desfavoráveis ou mais), apenas 3 candidatos parecem ainda poder acalentar algumas aspirações de competir com António Guterres: a búlgara Irina Bokova, o sérvio Vuk Jeremić e o já referido eslovaco Miroslav Lajčák. Destes, todavia, os dois primeiros não registam qualquer tendência positiva ao longo das votações (Bokova e Jeremić viram até diminuir os seus votos favoráveis de 9 para 7 e ambos continuam a ter 5 votos desfavoráveis, o que os desqualifica como solução para o impasse), e só o terceiro, o eslovaco Miroslav Lajčák, que tem tido votações bastante irregulares (teve agora 9 votos favoráveis mas na segunda votação tinha tido apenas 2), apresenta uma assinalável tendência de subida. Resta saber se chegou ao topo dos apoios possíveis ou se tem ainda margem de crescimento para se constituir como alternativa séria a António Guterres.

É certo, para ganhar a eleição para Secretário-Geral da ONU não basta ter votos, é preciso não ter o veto de nenhum dos membros permanentes do Conselho de Segurança. Deste ponto de vista, a comunicação social portuguesa tem feito questão de sublinhar que os 3 votos secretos desfavoráveis a Guterres podem esconder alguma surpresa desagradável, o que é sem dúvida verdade. Mas não menos verdade é que, pela mesma ordem de ideias, os 5 votos secretos desfavoráveis obtidos por Miroslav Lajcák e pelos principais concorrentes de Guterres têm ainda mais probabilidades estatísticas de esbarrar no veto de algum membro permanente.

Seja como for, o que mostram as muito prestigiantes vitórias de Guterres em todas votações realizadas é que o Conselho de Segurança já decidiu quem é o melhor candidato a Secretário-Geral. O que agora falta decidir é se o melhor candidato ganha, como merece.

 

Artigo publicado in Acção Socialista