A retirada dos Estados Unidos da América do Acordo de Paris - por via do qual 195 países (!) conseguiram, ao fim de longos anos de difíceis negociações, consensualizar compromissos importantes para o combate às alterações climáticas - é uma decisão totalmente irresponsável, que atinge em primeiro lugar, e muito duramente, as gerações futuras. Nesse sentido, e graças a Trump, este foi, provavelmente, o pior Dia da Criança de sempre.

Sentado aos comandos da maior potência do planeta, que aliás é também a principal responsável pelas emissões poluentes acumuladas, Donald Trump falta ao elementar dever - jurídico e político, mas também moral - de assumir as suas responsabilidades e dar o seu contributo para que a comunidade internacional seja capaz de enfrentar, de forma solidária com os países em desenvolvimento, um dos mais sérios problemas globais do nosso tempo. Indiferente aos apelos do secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, e até do Papa Francisco (que premonitoriamente lhe ofereceu a encíclica "Laudato Si", sobre o ambiente e as alterações climáticas, aquando da sua recente visita ao Vaticano...), Trump ignora grosseiramente toda a informação científica disponível sobre o problema do aquecimento global e funda a sua bizarra decisão política num único e tosco argumento: o Acordo de Paris, diz ele, não é um "bom negócio" para a América. Como se compreende, a miopia crónica de Trump impede-o de ver bem ao longe na ponderação dos encargos e das oportunidades inerentes à transição energética, mas a sua doença mais grave é outra - e chama-se "egoísmo". Lamentavelmente, a verdade é esta: o egoísmo tomou conta da Casa Branca.

Ao escolher o seu lugar do lado de fora do Acordo de Paris, Trump deitou por terra, de um só golpe, oito anos de intensos esforços diplomáticos de Obama para recuperar o prestígio perdido da América e devolver-lhe um lugar de liderança na cooperação internacional, depois dos anos conturbados de George W. Bush. E ao fazê-lo, Donald Trump levou o Mundo inteiro a perceber o que Angela Merkel descobriu há dias: os Estados Unidos deixaram de ser um parceiro fiável. E essa é uma notícia péssima - e perigosa.

Evidentemente, não tem ponta por onde se lhe pegue a ideia peregrina de reabrir as negociações do Acordo de Paris para que a comunidade internacional possa, obedientemente, oferecer ao senhor Trump o tal "negócio melhor para a América" - nem no Dia da Criança uma ilusão tão infantil pode ser levada a sério. Mas essa é já a marca inconfundível desta administração vendedora de ilusões: do TPP ao NAFTA, do Obamacare à política de imigração, Trump tem sido sempre incapaz de construir o que quer que fosse no lugar daquilo que destruiu.

 

Artigo publicado no Jornal de Notícias