Assolado pelos maus resultados e pelas graves crises que os erros dos ministros vão provocando no regular funcionamento dos sistemas públicos que lhes estão confiados, dos tribunais às escolas, a última coisa de que o Governo precisava era de um Primeiro-Ministro incapaz de dar resposta pronta quando questionado sobre a sua idoneidade.

Com a sua contra-ofensiva eleitoralista, o Governo tenta desconversar. Mas a verdade não passa despercebida a ninguém: Passos Coelho luta pela sua sobrevivência. E não é certo que resista.

O quadro é cada vez mais negro para o Governo PSD/CDS - e Passos Coelho e Paulo Portas sabem isso muito bem. A melhor prova está na agenda eleitoralista que o Governo preparou para este último ano do seu mandato e para servir de cortina de fumo nas crises que atingem a imagem do Governo: adiamento da reforma do Estado, suspensão da reforma da segurança social, abandono das novas medidas de austeridade (mesmo que já anunciadas), redução de impostos e, agora, aumento do salário mínimo.

Para levar à cena este fantástico espectáculo de luz, som e propaganda, o Governo desdobra-se em vistosas piruetas e não hesita em dar o dito por não dito. A consolidação das contas públicas, que era para ser feita pelo lado da despesa e pela guerra às malfadadas "gorduras do Estado", faz-se, afinal, à vista de todos, pelo lado da receita, mas não tem problema nenhum; as reformas estruturais, que eram imprescindíveis ao "ajustamento" e absolutamente inadiáveis, afinal podem esperar e ficam para a próxima legislatura; e o salário mínimo, que o Primeiro-Ministro dizia que até devia baixar, afinal aumenta e "mais do que estava previsto". Mas vai nisto tudo uma enorme ilusão. Esta desesperada ofensiva eleitoralista só confirma este ambiente de fim de ciclo: o fim do ciclo governativo da direita. Na verdade, por muito vistosa que seja, toda esta encenação política de última hora não apaga a evidência do fracasso do Governo testemunhada dolorosamente na vida das pessoas, das empresas e das instituições. E muito menos conseguirá desviar as atenções do que é essencial ou dispensará o Primeiro-Ministro de responder com frontalidade às perguntas muito simples que o Pais inteiro lhe está a fazer.

Tivesse o país um Presidente da República isento e exigente com o regular funcionamento das instituições democráticas e já lhe teríamos ouvido uma palavra sobre o caos que se instalou no sistema de Justiça. E sobre o resto. Nem que fosse para dizer o óbvio: estamos à beira de uma situação explosiva.

PS - Instalada que está uma monumental trapalhada na colocação de professores, com graves prejuízos para o arranque do ano escolar e o normal funcionamento das escolas, a ponto de o próprio Ministro Nuno Crato ter sido forçado a pedir desculpas públicas para enorme embaraço do Governo PSD/CDS, vale a pena fazer uma perguntinha simples: alguém viu por aí o Mário Nogueira? A dúvida é muito pertinente, mesmo em termos jurídicos: de acordo com o nº 1 do artº 114º do Código Civil, "Decorridos dez anos sobre a data das últimas notícias (...) podem os interessados (...) requerer a declaração de morte presumida". E o prazo já está a contar.

 

Artigo publicado no Diário Económico